08/03/2025

Continuaremos aqui
Por Tarsila Flores
Em mais um 08 de março, Dia Internacional da Mulher, nos inspiram histórias de luta de mulheres na defesa dos Direitos Humanos como as de Laísa Sampaio, Cacica Damiana, Simone Brandão Souza, Jéssyca Taylor e Irmã Gabriela Pinna, expoentes de grandes nomes femininos que nos brindam com lutas valorosas, na batalha contínua para o entendimento do que são os Direitos Humanos em sua essência e de como ainda são incompreendidos no Brasil.
Laísa Sampaio, professora e ativista na luta em defesa da floresta amazônica, teve sua irmã, Maria do Espírito Santo e o cunhado, José Cláudio, mortos numa emboscada no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna-PA, por denunciarem aa grilagem de terras. Laísa persiste e mantém viva a memória do casal.
Cacica Damiana morreu aos 84 anos no Mato Grosso do Sul, na luta pelas terras sagradas de seu povo, Guarani Kaiowá. Vivia com a comunidade indígena na beira da estrada, em condições deploráveis, mas não saíam do lado das terras ancestrais as quais honravam, almejando o dia no qual seus direitos seriam reconhecidos.
Simone Brandão Souza leciona na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, militante da Rede Lésbi Brasil, pesquisa a condição de mulheres privadas de liberdade e população LGBTQIAPN+, incansavelmente. Dedica-se à formação de novas pesquisadoras para a produção científica na temática e intervenções práticas para a garantia de direitos dessa população.
Anna Maria Pinna, a querida Irmã Gabriela, integra a Pastoral Carcerária Cearense e um dia me ensinou que inspecionar as prisões é realmente uma dura tarefa, mas que se deve manter a ternura no sorriso de um contato, pois a ternura e a dignidade humana é o que mais aquelas mulheres necessitam.
Jéssica Taylor é militante dos direitos das mulheres trans e travestis no Brasil. Expulsa de casa aos 10 anos de idade, cresceu nas ruas e tornou-se uma das mais aguerridas mulheres nas trincheiras das prisões de Sergipe, nas quais desenvolve um trabalho de acompanhamento constante de pessoas LGBTQIAPN+ privadas de liberdade, orientando e encaminhando a população carcerária para os exames de testagem de HIV/AIDS e acompanhando os tratamentos antiretrovirais.
Mas especialmente nesse ano, no qual Eunice Paiva, expressiva defensora dos direitos indígenas foi eternizada e reconhecida nas telas do cinema internacional, precisamos falar das mulheres que defendem os direitos humanos no cotidiano, as que estão fora dos holofotes. Uma classe de trabalhadoras das Organizações de Sociedade Civil que diariamente dedica-se aos programas e projetos em defesa da vida de pessoas ameaçadas, na luta pela reconstrução de trajetórias já marcadas intensamente pela violência, no acompanhamento de famílias, crianças e adolescentes, vítimas ou testemunhas, pessoas privadas de liberdade, pessoas em situação de rua e todas as outras expressões da vulnerabilização que se sofre hoje no Brasil. A essas mulheres que estão nos bastidores é a quem hoje rendemos nossas “feminagens” e a quem direcionamos nossa admiração e reverências, por muitas vezes deixarem as próprias famílias para a proteção de outras pessoas, pela dedicação de dias e noites na luta para que quem mais precisa tenha seus direitos garantidos. Muitas vezes o trabalho de toda uma vida!
Que possamos reconhecer e valorizar fortemente as mulheres que vivem a defesa de direitos humanos na prática, com garantias trabalhistas, com o reconhecimento de seus saberes e ações cotidianas, pela garra de empenharem-se nas trincheiras do dia a dia, com força, fé no futuro e com o brilho no olhar que só quem respira empatia carrega na alma. Um VIVA a todas as mulheres defensoras de direitos humanos do nosso país!
Tarsila Flores é técnica do Vida e Juventude, Psicóloga, Mestra em Direitos Humanos e Cidadania e Doutora em Saúde Pública.
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ASCOM - Vida e Juventude
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